Na última sexta-feira, foi celebrado no Brasil o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Por aqui, a data é emblemática a um setor que é visto, de longa data, por uma combinação que o brasileiro sabe usar bem: preconceito, crueldade e violência. Travestis e transexuais seguem sendo estigmatizados, zombados e agredidos (física e verbalmente) por uma sociedade que se incomoda com tudo que pareça e seja diferente. No Brasil dos cidadãos de bem e dos pagadores de impostos, essas pessoas são vistas "como tudo que não presta". Um sinal, aliás, que a nossa sociedade está doente, ainda antes da pandemia, que nos levou mais de 215 mil brasileiros.
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De acordo com levantamento da ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata, em números absolutos, pessoas trans em todo o mundo. Além disso, dados da União Nacional LGBT apontam que a expectativa de vida de um transgênero no Brasil é de apenas 35 anos. Até porque, em geral, eles são mortos antes disso.
Ainda que o Brasil de hoje viva um período extremado, de posições acirradas, virulentas e beligerantes, é de, ao menos, ser feito alguns questionamentos: por que nós, enquanto sociedade, não aceitamos gêneros diferentes? Seriam os corpos diferentes? Por que matá-los? Além da indiferença e do ódio, nutrido na vida real e nas redes sociais por nós, por que não exercer a tal da empatia?
Na década de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) avançou em algo, que hoje pode ser surreal, mas foi a retirada da homossexualidade da lista internacional de doenças mentais. A decisão transformou o 17 de maio como Dia Internacional contra a Homofobia. E se formos ver, lá se vão apensas 30 anos. Mais recentemente, por exemplo, em 2006, o SUS passou a aceitar o uso do nome social. Ou seja, aquele pelo qual travestis e transexuais querem ser chamados, em qualquer serviço da rede pública de saúde.
ALIÁS...
A vereadora Marina Callegaro (PT) protocolou, recentemente, um projeto de lei que institui o Janeiro Lilás - Mês da Visibilidade Trans em Santa Maria. De acordo com a vereadora, o texto tem como objetivo promover a inclusão, a igualdade e o respeito, bem como, combater todas as formas de preconceito e discriminação com mulheres e homens trans em Santa Maria.
- É preciso garantir direitos e efetivar ações de conscientização da população. Santa Maria é uma das cidades que mais matou mulheres trans nos últimos anos no interior do estado. Essa violência é um retrato do que acontece no país inteiro. Combater todo o tipo de preconceito e de discriminação é nosso dever - destaca Marina.
COMO SURGIU
Em 29 de janeiro de 2004, travestis, mulheres e homens trans foram a Brasília lançar a campanha Travesti e Respeito, para promover a cidadania e o respeito entre as pessoas e para mostrar a relevância das ações desse grupo no Congresso Nacional. Foi o primeiro ato nacional organizado por pessoas trans, fato que repercutiu muito.